Recuperação de Créditos Tributários: Uma Estratégia Essencial para a Saúde Financeira das Empresas

jun 19, 2023 | Por Anna Jordão

Introdução

A carga tributária brasileira é uma das mais complexas e onerosas do mundo. Nesse cenário, a recuperação de créditos tributários emerge como uma importante estratégia para amenizar a pressão fiscal e otimizar a gestão financeira das empresas. Trata-se de um direito assegurado pela legislação que permite aos contribuintes reaverem valores pagos a mais ou indevidamente ao Fisco. Entretanto, para que essa prática seja efetiva e segura, é necessário um profundo conhecimento do Direito Tributário e da realidade fiscal da empresa.

Créditos Tributários: Entendendo o Conceito

Créditos tributários representam valores que um contribuinte tem o direito de recuperar quando ocorre pagamento a maior ou indevido de tributos. Situações diversas podem gerar esses créditos, incluindo impostos pagos de forma equivocada, compensação de prejuízos fiscais, retenções na fonte não compensadas, e pagamentos excessivos por conta de cálculos incorretos. Os créditos tributários podem decorrer de tributos federais, estaduais e municipais.

A legislação tributária brasileira assegura ao contribuinte o direito de recuperação desses créditos, mas o exercício desse direito demanda atenção a prazos e procedimentos estabelecidos pelas normas fiscais. Cada tipo de tributo tem suas particularidades quanto à recuperação de créditos, tornando esse processo um desafio que requer especialização.

A Identificação dos Créditos Tributários: Uma Tarefa Complexa

O primeiro passo para a recuperação de créditos tributários é a identificação desses valores. Isso envolve uma análise detalhada e rigorosa de todos os tributos pagos pela empresa, um trabalho que exige um alto nível de expertise em legislação tributária. A identificação inclui a revisão das bases de cálculo dos impostos, as alíquotas aplicadas, e a verificação de possíveis incentivos fiscais não aproveitados.

Outro elemento crucial nesse processo é a revisão das chamadas obrigações acessórias, que são as informações e documentos que a empresa deve fornecer aos órgãos fiscais. Muitas vezes, a origem dos créditos tributários está em informações erradas ou incompletas transmitidas ao Fisco. Portanto, é de suma importância garantir a exatidão e a completude dessas informações.

Recuperando os Créditos Tributários: Um Processo Cuidadoso e Metódico

Uma vez identificados os créditos tributários, inicia-se o processo para a recuperação dos valores. Esse processo é administrativo e ocorre perante os órgãos competentes, que podem ser a Receita Federal, no caso de tributos federais, ou as Secretarias da Fazenda estaduais ou municipais, no caso de tributos estaduais ou municipais.

Nesse processo, é fundamental a apresentação de documentação que comprove a origem dos créditos e o direito da empresa à recuperação. A documentação pode incluir notas fiscais, declarações de imposto de renda, comprovantes de pagamento, entre outros. A análise dos documentos é realizada pelo órgão competente, e, se o pedido de recuperação for aprovado, os valores poderão ser restituídos em dinheiro, compensados com outros débitos tributários, ou até mesmo transformados em precatórios, a depender da legislação específica de cada tributo.

Compreender a teoria é fundamental, mas exemplos práticos são uma excelente maneira de visualizar como a recuperação de créditos tributários funciona na prática. Vejamos alguns exemplos a seguir:

Exemplo 1: Recuperação de Créditos de ICMS

Imagine uma indústria que produz e vende bens de consumo. No processo de produção, essa indústria compra matérias-primas e outros insumos, sobre os quais paga ICMS. No entanto, a empresa não se dá conta que tem direito ao crédito desse ICMS pago na entrada, que pode ser usado para abater o ICMS devido na saída dos produtos.

Exemplo 2: Compensação de Prejuízos Fiscais no IRPJ e CSLL

Uma empresa do setor de serviços, por conta de uma crise econômica, acaba registrando prejuízos fiscais em um determinado ano. Esses prejuízos, segundo a legislação, podem ser compensados com lucros que a empresa venha a obter nos próximos anos, reduzindo a base de cálculo do IRPJ e CSLL.

Exemplo 3: Recuperação de PIS e COFINS

Uma empresa do setor de comércio varejista pode estar pagando PIS e COFINS a mais, sem perceber. Isso porque a legislação permite a exclusão do ICMS da base de cálculo dessas contribuições, conforme decisão do STF. Com a revisão dos cálculos e a correta exclusão do ICMS, a empresa pode identificar que pagou essas contribuições a maior nos últimos cinco anos.

Exemplo 4: Recuperação dos créditos oriundos de parcelamentos não consolidados pela Receita Federal.

Suponhamos que, em 2020, a empresa XXX Ltda. aderiu ao REFIS (Programa de Recuperação Fiscal) para parcelar débitos de IRPJ e CSLL referentes ao ano de 2018. A empresa fez os cálculos preliminares do valor devido e começou a pagar as parcelas acordadas.

No entanto, devido a atrasos na consolidação do parcelamento pela Receita Federal, os pagamentos efetuados pela XXX Ltda. foram baseados em uma estimativa, e não no valor consolidado oficial.

Agora, imagine que a Receita Federal finalmente consolidou o parcelamento em 2023 e, após a consolidação, verificou-se que a XXX Ltda. pagou mais do que devia. Suponhamos que a empresa pagou R$ 1.000.000,00, mas, após a consolidação, verificou-se que o valor correto seria de R$ 900.000,00. Isso significa que a XXX Ltda. tem um crédito de R$ 100.000,00 a recuperar.

Nesse ponto, a XXX Ltda. deve solicitar a restituição ou a compensação desse crédito. Para isso, a empresa deve preencher o Pedido Eletrônico de Restituição ou a Declaração de Compensação (DComp), conforme o caso, e apresentá-lo à Receita Federal.

Após a apresentação do pedido, a XXX Ltda. deve acompanhar o seu processamento pela Receita Federal. Se o pedido for deferido, a empresa receberá a restituição do valor pago a mais, ou poderá usar esse valor para compensar outros tributos devidos.

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Estes são apenas alguns exemplos de situações em que a recuperação de créditos tributários pode ser aplicada. Cada empresa tem uma realidade tributária diferente, e a identificação de oportunidades para recuperação de créditos requer uma análise minuciosa e personalizada.

Elivelton Mittanck Fróis, publicado a 5 dias
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